Contos de Terror – A Cavalgada do Entardecer

Existe uma trilha esquecida no interior do Piauí que ninguém ousa passar depois que o sol vai embora. Atenção: Este conteúdo contém escrita extremamente intensa, chocante e sem censura, com elementos de terror visceral, gore e linguagem explícita. No interior do Piauí, onde o sol queima a terra até virar pó e as sombras do entardecer parecem engolir o mundo, existe uma trilha esquecida que corta um trecho de caatinga perto de Oeiras. Os mais velhos chamam de “Caminho do Fim”. Ninguém passa por ali depois das cinco da tarde, porque dizem que é quando a Cavalgada do Entardecer começa. Não é uma lenda bonitinha, dessas que contam pra assustar criança. É uma porra de história que faz o sangue gelar e os corajosos cagarem nas calças. A Cavalgada não é só um cavaleiro, é um enxame de coisas que já foram homens, agora algo pior, montados em cavalos que não têm carne, só osso e um fedor que faz o ar apodrecer. Dizem que são almas de bandoleiros que, nos anos 20, fizeram um pacto com um demônio tão velho que o próprio capeta tem medo dele. Em troca de poder e sangue, eles entregaram tudo: corpo, alma, e até o direito de descansar na morte. O terror começa com o Diego, um motoqueiro de 30 anos, daqueles filhos da puta que acham que são donos do mundo. Ele tava de passagem por Oeiras, voltando de uma entrega de peças de carro, e resolveu cortar caminho pela trilha, ignorando os avisos de um velho bêbado no bar da cidade. “Não passa pelo Caminho do Fim quando o sol tá caindo, rapaz. Eles vêm. Eles sempre vêm.” Diego riu, chamou o velho de louco e acelerou a moto, o motor rugindo como se pudesse espantar qualquer merda que aparecesse. Eram umas cinco e meia, o céu ardendo em laranja e vermelho, como se estivesse sangrando. A trilha era estreita, cheia de espinheiros que pareciam querer agarrar a moto. O ar ficou pesado, com um cheiro de ferro e podridão, como se alguém tivesse aberto um açougue no meio do nada. Diego sentiu um arrepio, mas pensou que era só o cansaço. Então, ele ouviu. Um som de cascos, distante, mas rápido, como se uma manada inteira estivesse galopando atrás dele. Olhou pelo retrovisor e não viu nada, só poeira subindo. Mas o som ficou mais alto, mais próximo, e agora vinha com um coro de vozes roucas, gritando coisas que não pareciam palavras, mais como gargarejos de quem tá se afogando em sangue. “Porra, que merda é essa?” Diego xingou, acelerando a moto até o limite. Mas a trilha parecia se torcer, como se a terra estivesse viva, tentando prendê-lo. O céu escureceu de repente, como se a noite tivesse engolido o entardecer em um segundo. Ele parou a moto, o coração batendo tão forte que parecia querer rasgar o peito. Foi quando ele viu. Eram cinco, talvez seis, vultos montados em cavalos esqueléticos, os ossos brilhando sob a luz fraca, com pedaços de carne podre pendurados como trapos. Os cavaleiros não tinham rosto, só buracos onde os olhos deveriam estar, e de dentro saía um brilho verde, como pus brilhando na escuridão. Suas bocas eram rasgadas, costuradas com arames enferrujados, mas ainda assim eles gritavam, um som que parecia rasgar a alma de Diego. Ele tentou ligar a moto, mas o motor morreu, e o silêncio que veio depois foi pior que os gritos. Um dos cavaleiros, o maior, desceu do cavalo. O bicho não era um cavalo, era uma porra de aberração: o crânio exposto, com dentes que não pertenciam a nenhum animal, e um rabo que se mexia como uma cobra. O cavaleiro caminhou até Diego, cada passo fazendo a terra tremer, e o cheiro era tão fétido que Diego vomitou ali mesmo, bile e cachaça queimando a garganta. O cavaleiro não tinha pele, só músculos expostos, pulsando como se ainda estivessem vivos, e nas mãos segurava uma foice tão enferrujada que parecia pingar sangue. “Você pisou no nosso chão, caralho,” a voz do cavaleiro não saía da boca, mas ecoava dentro da cabeça de Diego, como se tivesse invadido seu cérebro. “Agora você é nosso.” Diego tentou correr, mas o chão parecia chupá-lo, como areia movediça. Ele caiu, e os outros cavaleiros desceram, os cavalos urrando com vozes humanas, um som que parecia uma mulher sendo esfaqueada. Eles o cercaram, e o líder cravou a foice no ombro de Diego, rasgando músculo e osso como se fosse papel. O sangue jorrou, quente, e Diego gritou até a garganta rasgar. Mas o pior não era a dor. Era o que veio depois. Os cavaleiros começaram a rasgar o corpo dele, não com facas, mas com as mãos, arrancando pedaços de carne enquanto ele ainda estava vivo. Diego viu, em pânico, seu próprio braço sendo arrancado, o osso branco exposto, e ainda sentia tudo. Eles riam, um som que misturava prazer e ódio, enquanto lambiam o sangue dele com línguas longas e pretas, que saíam das bocas costuradas. Um deles enfiou a mão no peito de Diego, arrancando costelas como se fossem gravetos, e ele sentiu o coração ainda batendo, exposto, enquanto o cavaleiro o apertava, rindo. “Você vai cavalgar com a gente,” o líder disse, e Diego sentiu algo pior que a morte: sua alma sendo arrancada, como se um gancho tivesse fisgado algo dentro dele e puxado. Ele viu, por um segundo, seu próprio corpo, agora um trapo de carne e ossos quebrados, antes de tudo escurecer. No dia seguinte, encontraram a moto de Diego, coberta de marcas de garras e sangue seco. O corpo nunca apareceu. Mas os moradores de Oeiras dizem que, toda vez que o sol começa a cair, a trilha treme com o som de cascos, e agora há um cavaleiro a mais na Cavalgada do Entardecer. Um que grita um nome que ninguém entende, com uma voz que não é mais humana. E se você passar pelo Caminho do Fim
Contos de Terror – A Garota da Noite

Uma Lenda que fazem os mais velhos baixarem os olhos de medo Num vilarejo perdido no interior de Pernambuco, onde as estradas de terra se dissolvem em mato e o céu parece engolir as estrelas, havia uma história que ninguém ousava contar em voz alta depois do pôr do sol. A Garota da Noite. Não era uma lenda qualquer, daquelas que vovós contam para manter as crianças na linha. Era algo que fazia os mais velhos baixarem os olhos e os padres segurarem firme seus terços. Diziam que ela era uma moça, jovem, de beleza tão cruel que parecia esculpida pelo próprio demônio. Mas ninguém sabia ao certo quem ela foi em vida. Uns diziam que era uma noiva traída nos anos 50, que se matou num pacto de sangue com algo mais velho que o diabo. Outros juravam que ela nunca foi humana, apenas uma coisa que usava a pele de uma mulher para caçar. O que todos concordavam era: se você a visse, era tarde demais. A história começa com Rafael, um cara de 28 anos, caminhoneiro, daqueles que vivem na estrada e não acreditam em nada além do asfalto e do ronco do motor. Ele tava voltando de uma entrega em Recife, atravessando uma estradinha de terra perto de Triunfo, já passava das duas da manhã. O rádio chiava, o sinal fraco, e o ar tava pesado, com aquele cheiro de terra molhada e algo azedo, como leite estragado. Rafael tava cansado, os olhos ardendo, mas precisava chegar ao próximo posto antes de parar. Foi quando ele viu, à beira da estrada, uma garota. Ela tava de pé, sob a luz fraca de um poste meio quebrado. Vestia um vestido branco, rasgado nas bainhas, que parecia flutuar mesmo sem vento. O cabelo preto caía até a cintura, liso demais, como se fosse feito de tinta. Rafael diminuiu a velocidade, o coração acelerando, não por medo, mas porque a garota era linda. Linda de um jeito que não fazia sentido. Pele pálida, quase brilhando na escuridão, e olhos que ele não conseguia ver direito, mas que pareciam puxá-lo. Ele parou o caminhão, o motor tossindo, e baixou o vidro. “Precisa de ajuda, moça?” perguntou, tentando soar casual, mas a voz saiu rouca. Ela não respondeu. Só sorriu, um sorriso que parecia cortar a noite. Antes que Rafael pudesse dizer mais alguma coisa, ela estava do lado da porta do passageiro, como se tivesse deslizado pela escuridão. Ele não a viu se mover. O ar ficou gelado, e o cheiro azedo agora era insuportável, como carne podre misturada com flores murchas. “Posso entrar?” a voz dela era doce, mas tinha algo errado, como se ecoasse dentro do crânio dele. Rafael, ainda hipnotizado, só assentiu. Ela subiu no caminhão, o vestido roçando no banco de couro, e sentou com uma graça que não parecia natural. Ele tentou puxar conversa, perguntar de onde ela era, mas ela só olhava pra frente, o sorriso fixo. Foi aí que ele notou: os pés dela, descalços, não tocavam o chão do caminhão. Flutuavam, só um pouquinho, como se o mundo não tivesse peso pra ela. “Você acredita em pecados, Rafael?” ela perguntou, o nome dele saindo da boca dela, como se sempre o conhecesse. Ele congelou. Nunca tinha dito o nome. “Quê? Como você” “Shhh,” ela cortou, o dedo longo e frio tocando os lábios dele. A pele dela era gelada, mas queimava, como gelo seco. “Todo mundo peca. Mas você… você carrega tantos.” O caminhão começou a trepidar, mesmo parado. O rádio explodiu em estática, e uma risada baixa, gutural, parecia vir de todos os lados. Rafael tentou girar a chave, mas o motor não respondia. Ele olhou pra ela, e agora os olhos dela não eram mais escondidos pela sombra. Eram negros, completamente negros, como poços sem fundo, e dentro deles ele viu flashes de coisas que ele tentou enterrar: a briga com o pai que terminou em socos, a traição com a namorada do amigo, as noites em que bebeu até apagar e acordou com sangue nas mãos sem saber por quê. “Você não pode fugir,” ela disse, e agora a voz não era mais doce. Era como facas arranhando metal. O rosto dela começou a mudar. A pele rachou, como porcelana quebrada, revelando algo úmido e escuro por baixo, como carne crua. O sorriso se abriu demais, mostrando dentes afiados, mais dentes do que uma boca deveria ter. Rafael gritou, tentou abrir a porta, mas ela não cedia. O ar dentro do caminhão ficou espesso, difícil de respirar, e o cheiro agora era de enxofre puro. Ela rastejou por cima dele, o corpo leve demais, como se fosse feita de fumaça. “Você me chamou,” ela sussurrou, o rosto tão perto que ele sentiu o hálito dela, um fedor de morte e desejo misturados. “Todo mundo que passa por aqui me chama.” As mãos dela, agora com unhas longas e pretas, cravaram no peito dele, rasgando a camisa e a pele como se fossem papel. Sangue quente escorreu, mas ele não conseguia se mover, preso por aqueles olhos que agora brilhavam com um vermelho doentio. O que veio depois, Rafael não conseguiu descrever, porque ninguém sobrevive à Garota da Noite sem perder algo. Ele acordou horas depois, jogado na beira da estrada, o caminhão a poucos metros, com as portas abertas e o interior coberto de arranhões profundos, como se um animal tivesse rasgado tudo. No peito, ele tinha marcas de unhas, fundas, que sangravam e ardiam como se ainda estivessem sendo cortadas. No espelho retrovisor, ele viu, por um segundo, o reflexo dela, sorrindo, antes de sumir. Rafael nunca mais dirigiu à noite. Ele parou de contar a história depois que os outros caminhoneiros começaram a rir, dizendo que era só cachaça e sono. Mas nas poucas vezes que falou, ele tremia, e seus olhos ficavam vidrados, como se ainda visse aqueles olhos negros. E os moradores de Triunfo sabem: se você dirigir por aquela estrada depois da meia-noite,